segunda-feira, 14 de abril de 2014

CONVITE

TE CONVIDO
A NAVEGAR
NUM MAR DE HISTÓRIAS REAIS E IMAGINÁRIAS
A EXPLORAR
UM MUNDO REPLETO DE POESIAS
TROCAR IDÉIAS
EXPERIMENTAR A TERAPIA
DO CORPO E DA ALMA
ENFIM,
TE CONVIDO
A CONVIDAR-ME
FAZER PARTE
DE UMA PARTE DE TI

AQUIESCER

                                    

Será que estamos em consonância com o princípio da aquiescência? Ou será que estamos numa constante luta para vencer um adversário que mora dentro de nós mesmos:  “A nossa resistência em aceitar certas coisas que precisam ser vividas”. Estamos muito mais sintonizados com o combate do que com a aceitação. Assim, vivemos em guerra a maior parte do tempo. Em guerra, não conseguimos viver a paz. Sem paz,  adoecemos e ao mundo ao nosso redor que compartilha a mesma energia a qual estamos sintonizados. Por isso, é comum presenciarmos guerra entre amigos, casais, parceiros, pais e filhos.
Somos educados para servir ao nosso ego, nem sempre à nossa alma. Nem sempre ela  deseja aquilo que o nosso ego dita. O nosso ego deseja um poder muito diferente do poder almejado por ela. O ego deseja ter poder sobre os outros; deseja ser melhor do que os outros, deseja vencer os outros. A nossa alma não deseja nenhum poder que não seja sobre nós mesmos; deseja vencer os nossos pontos fracos; mais do que vencê-los, fortalece-los. A nossa alma deseja, sobretudo, sentir que somos melhores do que fomos ontem, que estamos evoluindo e que a nossa evolução contribui para a evolução de tudo que nos cerca.
Quantas vezes, como crianças birrentas e mimadas, queremos coisas totalmente contraditórias. Queremos muitas coisas e nem sempre aceitamos o que temos. Neste querer desenfreado, sentimo-nos desapropriados. Sintonizados apenas com os nossos desejos, com aquilo que nos falta, nos esquecemos de aceitar e agradecer o que temos em abundância. Queremos transformar o outro na expressão de nossos desejos e, se o outro não se transforma naquilo que lhe impomos, achamos que o problema está com ele, jamais  na nossa imposição  projetada sobre o mesmo. Agimos, mesmo sem a nossa consciência,  como senhores, exigindo do outro, nosso escravo,  servidão  aos nossos desejos mais mesquinhos–  “Se fores como desejo, será uma boa pessoa e estará, portanto,  liberto de meus julgamentos e da minha hostilidade”. Achamos todos os defeitos para quem insiste ser diferente daquilo que faça bem ao nosso ego. Achamos justificativas para todos os nossos erros, jamais para as arestas dos outros. É como se as arestas dos outros ferissem mais do que as nossas. Tem gente que rouba, mas não pode ser roubado. Tem gente que trai, mas não pode ser traído. Tem gente que mente, mas não aceita mentiras. Que contradição! Nosso egocentrismo nos cega para as nossas contradições e nos coloca em alerta para as contradições alheias. A nossa capacidade de enxergar o outro tal como ele é, é proporcional à nossa capacidade de enxergar a nós mesmos.  
Não somos obrigados a aceitar certas coisas que o outro tem para nos oferecer. Podemos dizer “NÃO”. Mas, para aquilo que dissermos “SIM”, devemos aquiescer. Na aquiescência,   aceitamos o que o outro nos oferta, sem lutas e sem ofensas. Para isto, é bom que sejamos maduros; que saibamos o que é saudável receber. Tem gente que aceita uma fruta podre e quer preparar uma salada saborosa. Salada de fruta podre não terá um sabor agradável. Posso até aceitar uma fruta podre e joga-la fora para que sirva de estrume para o solo de minha alma, jamais como alimento para a mesma.
Passamos muito tempo de nossa vida querendo transformar o outro e ao mundo a nossa volta ao invés de investir a nossa energia em transformar a nós mesmos. Muitas transformações doem, pois ofertam uma forma nova de pensar, agir e sentir. Colocar nossos pensamentos, sentimentos e ações dentro de uma outra fôrma bem diferente daquela a qual estamos acostumados, não é nada fácil; meche muito com nossas estruturas mais profundas e ficamos com muito medo de desmoronar. Preferimos desmoronar a estrutura do outro que nos incomoda, jamais as nossas. Mesmo que a estrutura do outro seja precária, não cabe a nós muda-las, apenas a ele cabe esta difícil missão. Para não perder o outro, muitos optam por se encaixar dentro de estruturas muito precárias. Reclamam da precariedade estrutural deste, mas não se libertam desta estrutura. Com certeza, algum ganho secundário existe por detrás de situações desta natureza.

É preciso aquiescer  até para dor. Aceitar a dor para transforma-la é sempre o primeiro passo. Sem o primeiro passo não há como dar o segundo, o terceiro e por aí vai... Para alguns prazeres, paga-se o ônus de alguns desprazeres iniciais. Para ser feliz, é fundamental aceitar viver o sol e a chuva; o dia e a noite, enfim, o yin e o yang. Aceitar, sobretudo, viver o conforto e o desconforto de toda relação, seja consigo mesmo, com o mundo e com todas as pessoas ao seu redor. Aceitar extrair de cada vivência, o melhor que ela tem para lhe oferecer. Se puderes rejeitar algo, diga “NÃO”, mas, diga “NÃO” de verdade.  Se disseres “SIM”, diga “SIM” de verdade. E o que vem a ser dizer “NÃO e “SIM” de verdade? É, simplesmente, ser verdadeiro. No entanto, é muito difícil ser verdadeiro. Blefamos o tempo para ganhar o jogo e vencer o adversário, mas como já disse anteriormente, a nossa alma, diferente de nosso ego que adora jogar,  não joga,  só deseja vencer as picuinhas de si mesmo. Portanto, cabe a você decidir quem será  o seu mestre e a quem dará o poder de decidir. O seu Ego terá um discurso brilhante, repleto de joguetes e seduções, para lhe persuadir e vencer a eleição. Por outro lado, a sua alma, serena e tranquila, estará sempre aí, aquiescente, acolhendo e aceitando a sua decisão que não é nada mais nada menos do que um retrato de sua maturidade neste seu momento existencial.  Ela nunca vai cobrar de você ser um adulto se ainda vive a sua mais tenra infância. 

domingo, 6 de abril de 2014

"ETERNIDADE": A IDADE MAIS IMPORTANTE.

“ETERNIDADE”: A IDADE MAIS IMPORTANTE.


Este artigo é o relato de uma palestra que ministrei para idosos em 2004. Naquela época, meus pais estavam na faixa dos 70 anos. Hoje, já passaram dos 80 e continuam jovens e saudáveis como sempre. Continuam trabalhando e  fazendo as mesmas atividades. Só mudou algumas coisinhas: um pouquinho mais de rugas (nem tanto assim) e muito mais sabedoria.

É com grande prazer, que estou aqui hoje para compartilhar um pouquinho daquilo que vocês são ou que, pelo menos, deveriam ser. Mas, parece existir alguma coisa errada neste meu discurso. Como é que eu poderei falar para vocês aquilo que vocês são, ou aquilo que deveriam ser? Parece haver uma contradição. Não deveriam ser vocês, as pessoas que deveriam estar aqui na frente, hoje , dizendo para mim o que vocês são, ou, no mínimo, me ensinando o que eu poderia vir a ser no futuro? Acho que a produção deste evento convidou a pessoa errada. Eu deveria estar sentada aí e vocês deveriam estar aqui, me ensinando a ser uma pessoa sábia no futuro. Se eu não sou a pessoa errada, tem alguma coisa errada nesta história. Que coisa errada é esta? Acredito que a coisa mais errada desta história se chama esquecimento. Muitos de vocês estão esquecidos do que são,  ou pelo menos do que deveriam ser. Dizem, inclusive, que gente velha fica esquecida mesmo. Mas, será que vocês são “gente velha”? Por falar em esquecimento, vocês sabem qual é a definição de memória? Memória é a capacidade de esquecer as coisas. O que seria de todos nós se não esquecêssemos as coisas. É preciso esquecer para que possamos reter apenas o que é importante. O problema é que a maioria dos idosos não retém o que é realmente importante, pelo contrário, esquecem o que é importante e retém apenas o que é importante jogar no lixo. E, o que é importante jogar e não jogar no lixo? Não sei se vocês sabem, lixo traz doença. Eu acredito que a maioria das doenças dos idosos se deve muito mais a este lixo que guardam dentro deles do que, propriamente, às limitações naturais  que o corpo vai se submetendo com o passar dos anos. Não quero dizer com isto, que os limites não existam, mas limites são coisas que a gente vai aprendendo a administrar e não o contrário. Se deixarmos que estas coisas chamadas limites nos administrem e  à nossa vida, seremos conduzidos ao fracasso, à falência e à doença. Voltando aos lixos, quais são eles? São, sobretudo, registros negativos que acumulamos, ao longo dos tempos, em nossa mente. Quando eu era criança e descobri uma coisa muito chata chamada morte, fiquei deveras muito assustada. Precisando de uma solução tranquilizadora  para este drama chamado morte, obtive a seguinte resposta: “A gente morre quando fica velho”. E velho, para mim,  era aquela pessoa de rugas no rosto, cabelo branco.... Acho que esta resposta talvez tenha até me tranqüilizado, pois as pessoas que mais amava,  não tinham rugas no rosto e, nem mesmo, cabelos brancos na época. Só que fui crescendo... Algumas das pessoas que eu muito amava – meus pais – foram ficando com as tais rugas pelo rosto e com os cabelos brancos. Assim, comecei a temer a morte novamente. Mas, o mais interessante desta história, é que  eles, mesmo velhos, não morreram; morreram pessoas jovens que eu muito amava. E não morreram só de acidente, forma prevista de se morrer jovem, conforme os manuais de previsão de tempo de vida;  morreram de doenças também. Assisti crianças, adolescentes e jovens morrendo;  fui descobrindo que a morte não era um atributo da dita velhice, mas que era um atributo da vida e que acontecia em qualquer etapa da mesma. Foi aí que eu joguei fora o lixo de que a dita velhice era a hora de se esperar a morte. Eu descobri que a morte nos ronda o tempo todo e que a única maneira de espantá-la, era viver intensamente e saudavelmente. Descobri que a morte só teme uma coisa – a própria vida.
 Vivendo, eu me deparei com um  jovem, que muito me surpreendeu,  fazendo um breve relato de sua vida. Ele estava muito feliz, pois havia feito uma descoberta muito importante. Ele havia descoberto que tinha uma vida plena pela frente. Que cada minuto de sua vida representava muito. Que num minuto, tanta coisa poderia ser feita... Ele não havia, até então, pensado nisto, talvez por se considerar muito imaturo. Estava, entretanto,  determinado a aproveitar esta nova fase da vida  para amadurecer, pois o seu maior desejo era conquistar a sabedoria. Aproveitaria cada minuto para investir nesta conquista. Tinha arranjado uma nova namorada e descobriu que, em um minuto, poderia lhe dar um sorriso, dizer que lhe amava, olha-la com ternura e amor, abraçá-la e receber o mesmo de volta. Descobriu que, em um minuto, poderia contemplar a beleza e sentir o aroma de uma flor, enfim, quantas coisas poderia fazer em um minuto... O mais interessante, foi o que ele me falou sobre seus projetos de vida: “Imagine de minuto em minuto, o que poderei fazer...  Posso fazer muito e farei. Farei projetos e trabalharei em função deles, farei mais amigos, conhecerei novos lugares, buscarei novos conhecimentos, experimentarei intensamente tudo que a vida me oferecer, pois eu quase a perdi”. Este jovem tinha passado por uma experiência de quase morte;  agora,  valorizava a vida mais do que tudo.
Por outro lado, me deparei também, em outro momento de minha vida, com um velho que me disse: “ Que vida! Não há nada de bom para se fazer aqui. Deus é muito injusto.  Colocou-me neste mundo que só tem maldade. Mulher não presta, trabalho cansa, família só traz preocupação. O que é que me resta? Só lamentação mesmo!” Por curiosidade, este velho tinha 30 anos de idade e o jovem que lhes falei anteriormente, 70. Foi aí que comecei a pensar em nossas referências sobre a velhice e sobre a mocidade. Pensando, esquentando minha cabeça,  descobri  que preciso de uma resposta. Talvez, vocês possam me dar esta resposta, pois dizem que vocês estão na dita 3ª idade. Se 3ª idade é a última para vocês, eu não sei... Eu só sei que para mim deve ter a 4ª, 5ª , 6ª e por aí vai. Tomando como base os meus pais... Ou tem uma coisa errada comigo, ou tem uma coisa muito errada com eles. Tem um povo que chega no meu consultório dizendo: “Eu já tô velho! Minha mãe é muito idosa. Meu pai está muito velho! E, por aí vai. Quando pergunto a idade dos ditos cujos, eles me respondem: 60, 66, 68, às vezes, 70. Aí eu olho para os meus pais, que já estão na casa dos 70 e não consigo ver velhice neles. Minha mãe é uma gatinha, aliás adora gatinhos. Outro dia, subiu no telhado, desparafusou telha para tirar gato debaixo do telhado. Dança, faz ginástica com pique de adolescente, faz yoga, trabalha o dia inteiro, costura para a família inteira, cuida de todo mundo. Eu nunca vi ela doente. A única doença que  arranjaram para ela foi um erro médico. Abriram a barriga dela, tiraram o útero  e ele estava perfeito. Não toma remédio algum, aliás, se tomar, passa mal. O meu pai, trabalha o dia inteiro. A pouco tempo fez uma arte de pular de cima de um caminhão e quebrar a perna. Mas, ia para a fazenda de perna quebrada, levava corrida de boi , mas não parava. Um belo dia fui andar a cavalo com ele. Andamos 4 horas direto. Eu saí toda escadeirada e ele todo inteirão. Daí eu comecei a pensar. Será que sou uma filha desnaturada. Não consigo ver velhice nos meus pais. Quero mais é ver eles trabalhando. Quando tiverem que morrer que morram trabalhando e sem depressão. Se eles estão na dita terceira idade, acho que com esta energia toda deve ter pelo menos mais umas três  pela frente. Tem filho que acha que os pais quando chegam na 3ª idade deverão:
1º) Descansar. Só que confundem descanso com tédio. Aquela pessoa útil que fazia tudo, que era responsável por um monte de coisas, que administrava, passa a não administrar nem mesmo a própria vida. Até para comprar um sapato na esquina tem que levar alguém junto. Substituem o trabalho e atividade física pela ociosidade. Como trabalhar e exercitar é a melhor medicação para uma vida saudável, adoecem rapidinho.
2ª) Repartir herança quando estes possuem bens ou uma boa situação financeira. Indiretamente, estão dizendo que eles não precisam ter mais nada. Só nós, jovens, é que devemos ter. Aliás, se tiverem renda não deverão comprar mais nada para eles próprios, só para os filhos. Não estou dizendo  que não podemos ou que não devemos comprar ou repartir para os nossos filhos, ou para qualquer outra pessoa, o que bem desejarmos. Pelo contrário, até aprecio muito esta atitude de desapego e generosidade. Estou dizendo que o idoso tem pleno direito e dever para consigo mesmo de continuar conquistando. Conquista não é atributo apenas de pessoas novas, é , sobretudo, um atributo de pessoas jovens, dinâmicas e inteligentes. Se você é tudo isto, independente da sua idade, você deverá continuar conquistando.
3ª) Esconder toda a sua energia sexual para não ser chamado de velho tarado. Sexualidade é realmente atributo dos jovens, mas acabei de relatar uma história de um jovem de 70 anos e de um velho de 30.
4º) Esperar a morte com tranqüilidade. Ninguém espera a morte com tranqüilidade. Conseguiremos morrer bem se estivermos vivendo com tranqüilidade. Outro dia vi na TV, uma brasileira que morreu com 123 anos. Se aos 60 ela estivesse esperando a morte, coitada! Esperaria tempo demais. Passaria a metade da vida esperando a morte.
A grande verdade esquecida ou jogada no lixo, é que o ser humano pode viver muitos anos, muito mais do que a gente imagina. A gente só morre cedo por causa dos lixos que lhes falei. 30 anos pode representar muitos anos se forem bem vividos. 100, pode nada representar se forem mal vividos. Não façam da dita 3ª idade a última a ser vivida. Reedite este registro na mente de vocês. Transforme a 3ª idade em apenas mais  uma idade onde a  reavaliação de nossos conceitos e valores redefinirão  a nossa caminhada que poderá, para muitos,  ser mais serena e tranqüila. Não permita que a 3ª idade seja a idade de, apenas,  se receber cuidados especiais. Que ela seja, sobretudo, a idade de cuidar do outro, utilizando a sua sabedoria que foi arduamente construída na sua 1ª e 2ª idade. Que esta sabedoria possa continuar a ser serenamente construída para ser utilizada também na sua 4ª, 5ª, 6ª; sei lá quantas idades podemos ter... Só sei que devemos nos permitir ter todas, principalmente aquela mais importante de todas: a de ser eterno. Se a gente vive a eternidade, a gente nunca se sente perto da morte, independente dela chegar na 1ª, 2ª, 3ª, 4ª ou qualquer idade que consigamos viver. Só a consciência de eterno, nos permite transcender o tempo. Quem transcende não morre jovem e nem mesmo envelhece; apenas, vive-se mais e muito. É na transcendência que mora a verdadeira felicidade. Em nosso tempo cronológico existe a finitude. Em nosso tempo eterno existe o infinito. No infinito não há o que alcançar, há apenas que VIVER, certo de que tudo está ao alcance o tempo todo e para sempre. Se não alcanço certas coisas é porque estou alcançando outras. Se não posso alcançar tudo, posso, no mínimo, alcançar o mais importante. Sem filosofar muito... VIVER! E, VIVER está ao alcance de todos.
Agradeço a atenção de todos e espero, da próxima vez, estar sentada aí, ouvindo e captando  a preciosidade e a riqueza  extraída através da experiência adquirida em cada ano de vida vivido por cada um de vocês. 
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