sábado, 20 de abril de 2013

A MELHOR IDADE



     Vivemos numa sociedade que cultua a juventude, ignorando e subestimando a riqueza das pessoas mais velhas. Envelhecer se tornou um pecado, um defeito e uma doença nos dias de hoje. Ter um corpo conservado, sem os sinais do tempo se tornou uma obrigação e a mais valiosa virtude. Dita-se o corpo  e a aparência perfeita que todos nós devemos perseguir para sermos valorizados e aprovados por este sistema doentio de valorização pessoal. A nossa verdade passou a ser a verdade disseminada pela mídia e pelos interesses de mercado. O rótulo que carregamos passou a ser mais importante do que o conteúdo. Para isto, nos vestimos com as marcas e consumimos  os produtos que possam nos tornar um valioso bem de mercado. Infectados por esta doença social, perdemos a nossa verdadeira identidade ou passamos, no mínimo, a temê-la.
Dizer a idade passou a ser um risco. Melhor escondê-la, pois a melhor idade é sempre aquela que ficou para trás. Melhor esconder também as nossas rugas, as nossas celulites, estrias,  gordurinhas, enfim, tudo aquilo que não nos permite ser como as imagens idealizadas e perfeitas, na maioria das vezes, corrigidas por poderosos programas de fotoshops. Os recursos para nos ajudar a não ver o que nos incomoda aumentaram.  Não precisamos mais das antigas revelações, as fotos digitais nos permitem apagar e corrigir todas as características que aos nossos olhos possam nos lembrar que somos bem parecidos com aquilo que somos de fato. Preferimos sermos parecidos com os modelos que pousam nas mais altas passarelas da moda. Viver passou a ser uma questão de moda e é cafona nos vestir com a nossa real identidade.  Melhor, nos travestir. Para ficarmos menos parecidos com aquilo que a gente é, consumimos todos os produtos que o mercado oferece, aspiramos e amputamos partes nossas que não nos interessam mais ou esculpimos o corpo que os olhos deste mundo doente vai valorizar. E os nossos olhos? A cada ano que passa, temem enxergar a passagem dos anos. E, há tanta coisa boa na passagem dos anos! Há perdas significativas, mas há conquistas tão relevantes!  E, é destas conquistas que eu gostaria de falar, para que não precisemos mais temer os nossos cabelos brancos e aquelas rugas que podem até não serem charmosas, mas são marcas que dizem muito sobre a nossa história que precisa ser valorizada, independentes de sermos jovens ou velhos.
Há jovens velhos e velhos jovens. Independente de qualquer coisa, o que determina a nossa idade é o tempo, mas o que determina a nossa disposição, alegria, juventude, sabedoria e beleza é a nossa história. Toda história, se não é valorizada, precisa ser, no mínimo, respeitada. Se eu tenho 15, 30, 50 ou 90 anos de história, o que importa é o que  eu fiz, faço e posso fazer com ela e por ela. Adoro histórias. Como terapeuta, passo grande parte de minha vida ouvindo a história dos outros; como mulher, vivendo a minha história; e como escritora, criando historinhas para dar mais compreensão e encanto à vida.  Adoro dizer a minha idade, pois ele reflete a minha história.  Acho que aprendi isto com a minha mãe e com o sorriso de satisfação que brotava não só de seus lábios, mas também de seus olhos todas as vezes que as pessoas exclamavam indignadas: Mas, você está muito conservada! Minha mãe soube conservar sem se tornar produto conservante. Ela soube conservar a sua própria história, ou seja, valorizar cada fase sem subestimar ou negligenciar uma em detrimento da outra. Com quase 80 anos, ora parece uma criança, ora uma adolescente, ora uma anciã. Ela sabe ser divina e o divino carrega todas as fases em si mesmo.  O divino carrega o feio e o bonito, o novo e o velho, o bom e o ruim, a alegria e a tristeza; só não carrega a rigidez de ser uma coisa só. O divino não precisa da aprovação de ninguém para ser; ele é. E, é isto que precisamos. Precisamos ser divinos e precisamos ser o que somos – humanos. Divinamente humanos, valorizarmos a nossa singularidade rejeitando qualquer clichê ou padrão de beleza que nos seja imposto. Precisamos desenvolver a capacidade de enxergar a beleza na sua essência e não a beleza fabricada por este Deus mercador e capitalista. Mais do que mostrar a nossa identidade revelando a nossa idade, precisamos ter a coragem de admitir que temos uma história que se reflete em nosso corpo, na nossa aparência, na nossa saúde, na nossa energia, enfim, na expressão que os nossos olhos e o nosso sorriso revela. Se esta história nos deixou aparentemente mais enrugado, sem energia e saúde, o que importa é que estamos vivos. Esta história que se reflete em nosso corpo retrata o grau de nossa labuta, da atenção, amor e cuidado que tivemos para com a nossa vida e para com o mundo. Enquanto estivermos vivos poderemos transformar aquilo que nos adoece e nos tornarmos ainda mais vivos, mais belos e cheios de energia. Cada dia e ano que passa é uma oportunidade a mais para a transformação; é uma grande dádiva que lamentavelmente nem todos valorizam. Há quem queira parar no tempo por acreditar apenas nos encantos de uma juventude débil que desconhece o poder da eternidade e por ser demasiadamente carente e inseguro desejando uma falsa aprovação e valorização que jamais será conquistada sem a base do amor verdadeiro e incondicional por si mesmo.
      Lembre-se: A idade só pára para quem morreu. Assim, a melhor idade é sempre aquela que estamos, pois é somente nela que podemos viver. Nela cabe tudo que já foi vivido e tudo que ainda se pode viver. Ela é o nosso “presente”; presente em todos os sentidos. Bendita seja ela!

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